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Azoofa Indica: Charly Coombes

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Não é como se Charly Coombes tivesse mudado de planeta. Mas quando o músico inglês decidiu deixar sua Inglaterra natal e se mudar para o Brasil, há alguns anos atrás, é claro que houve um choque ali. Nada, porém, que o fizesse desistir – pelo contrário. Charly veio parar aqui de navio. E só fala do Brasil com carinho. Ele parece feliz em ver que o primeiro show fora da Inglaterra do seu mais recente disco, “Black Moon”, será em nossas terras, mais especificamente neste domingo, no Centro Cultural São Paulo (saiba mais).

O músico é o irmão mais novo do clã dos Coombes, que ainda tem Rob e Gaz, irmãos de Charly, que formaram o Supergrass, banda de britpop que surgiu nos anos 90 e com quem Charly chegou a tocar recentemente. O caçula, porém, tem uma carreira respeitável em trabalhos realizados com o 22-20′s e o Charly Coombes & The New Bread. Em 2013, lançou seu primeiro solo, “No Shelter”. No final do ano passado, veio seu sucessor, “Black Moon”.

O disco, aliás, trata de uma jornada de deslocamento espacial que Charly gostaria de fazer, tenho certeza. Apaixonado pelo espaço e tudo relacionado ao assunto, o inglês decidiu compor um álbum dedicado a ele, um trabalho conceitual que servisse de trilha sonora para viagens. Se daqui a alguns anos a humanidade puder viajar pelo universo como quem viaja da Inglaterra para o Brasil, você já sabe qual disco colocar pra tocar na nave espacial.

O Azoofa bateu um papo exclusivo com o músico sobre o disco, sua relação com o Brasil e arrancou dele uma frase em que  a referência é o espaço, mas que cai muito bem para quem está com os pés na terra. “Não é tanto sobre o resultado final, mas sim sobre a jornada”.

AZOOFA: Sua primeira visita ao Brasil foi há 10 anos, com o Supergrass. Quais lembranças você guarda de seu primeiro contato com o país?

Charly Coombes: Uau, não acredito que já fazem 10 anos! Honestamente, meu primeiro contato com o Brasil foi um pouco frustrante… porque eu não cheguei a conhecer nada! Chegamos de avião a noite e entramos no carro diretamente para o Campari Rock Festival… tocamos no dia seguinte e partimos de volta a Inglaterra. Foi uma pena não ter tido tempo de conhecer São Paulo ou ter tirado um tempo para explorar! Mas minha primeira impressão sobre as pessoas daqui não foi nada ruim. No festival, não apenas conheci a Rayana – que hoje é minha esposa – mas também conheci o pessoal da Cachorro Grande… e 3 anos depois eles vieram para o meu casamento e continuamos grandes amigos! Isso, para mim, diz muito sobre o Brasil e as ótimas pessoas que aqui vivem!

Como começou seu interesses pelos assuntos espaciais? É uma curiosidade que vem de criança?

Eu sempre fui um grande fã de ficção científica. Cresci assistindo 2001 – Uma Odisséia no Espaço e Guerra nas Estrelas, e depois me tornei um grande fã de Star Trek! Mas o que realmente me conquistou foram as missões espaciais Mercury e Apollo. Já perdi a conta de quantos documentários e livros eu li sobre o assunto! Na minha opinião, os humanos tem uma necessidade de explorar. É uma coisa que temos que fazer. E essas pessoas ultrapassando barreiras e fazendo o impossível sempre foi fascinante. Não é tanto sobre o resultado final, mas sim sobre a jornada… o desafio de superar.

Black Moon é um disco conceitual em torno dos mistérios do espaço. Como foi a experiência de compor e gravar um disco com uma temática tão definida?

No começo, achei o processo bastante assustador, bastante limitante. Mas passei a perceber que nossas conquistas no espaço, nosso lugar no universo e o futuro hipotético da raça humana me deram muita inspiração e levantaram questões a serem consideradas. Mas não quis que o trabalho fosse um álbum apenas para pessoas interessadas em viagens espaciais e ficção científica. É verdade, o álbum é repleto de histórias específicas sobre viagens espaciais e o nosso universo, mas também funciona como um espelho para nossas jornadas e desafios que enfrentamos todos os dias. Com cada jornada, vem medo e deslumbramento, em mesma quantidade.

Em 2014, você decidiu vir morar no Brasil. Fiquei pensando numa analogia entre o astronauta que deixa a Terra rumo ao desconhecido com o inglês que deixa seu país rumo ao Brasil. Como é sua relação com o país? Como foi sua chegada aqui?

Morar no Brasil foi sempre um plano muito real para mim. Minha esposa Rayana é brasileira e isso é algo que sempre conversamos. Mas foi uma coisa interessante que aconteceu comigo, em meio a uma gravação de um álbum. Quando deixei a Inglaterra, a maioria das músicas estavam espalhadas em sessões desconectadas – peças orquestrais estranhas, loops, sequências e melodias. O álbum não tinha forma. Mas minha mudança para o Brasil me deu a chance de juntar as peças. Minha esposa e eu não gostamos muito de viajar de avião, então decidimos vir ao Brasil em um cruzeiro. Estar num navio por 2 semanas foi bem estranho, mas foi ainda mais estranho passar seis dias inteiros no mar, sem nenhuma terra à vista. Momentos como esse ajudam bastante em se concentrar no álbum – não posso ir ao espaço, mas fiz uma bela jornada que também foi assustadora. Amo o Brasil e amo estar aqui. Mas mudar-se para outro país é estranho, assustador e maravilhoso para qualquer pessoa, e existem reflexões sobre isso em todo o álbum.

Esse disco foi composto, produzido e gravado aqui no Brasil. De que maneira isso influenciou no resultado final do disco?

Bem, na verdade foi uma mistura. Grande parte foi escrito e gravado na Inglaterra, mas o álbum foi juntado em São Paulo. Todos os vocais foram gravados aqui, assim como grande parte da produção e mixagem. Acho que no Black Moon, minhas ideias para o álbum estavam bem focadas, então minhas inspirações estavam bem definidas e vinculadas com o som que buscava. Com a concepção e sonoridade trabalhadas, foi difícil encaixar a cultura e música brasileiras na gravação. Mas estando em um novo país, em novos ambientes, com uma nova língua – são coisas que me ajudaram a identificar as pessoas sobre quem estava escrevendo. Elas são todas fundamentalmente pioneiras e exploradoras.

O disco foi lançado em setembro do ano passado. Nesse quase 1 ano de turnê, por quais lugares você passou? Houve algum show memorável?

Esse álbum foi lançado na Inglaterra no ano passado, mas agora está mais na fase de lançamento internacional, focado mais no Brasil. Haverá uma edição especial em CD, feito aqui no Brasil, e também estará disponível nas lojas. Mas o show no Centro Cultural São Paulo, no dia 24/07, é a primeira que o álbum será tocado ao vivo, incluindo o Reino Unido. Eu posso ser bem recluso, adoro trabalhar no estúdio e compor. E Black Moon foi escrito e gravado com a intenção de não ser tocado ao vivo. Porém, quanto mais pensava sobre o assunto, mais queria tentar traduzir o álbum para um show ao vivo. Os brasileiros estão me apoiando bastante e os fãs são sensacionais – então, que lugar melhor para estrear uma performance ao vivo de um álbum? É um desafio enorme tocar ao vivo um álbum tão complicado, mas mal posso esperar pelo show. Acho que será bem especial!

Por fim: na sua relação com o Brasil, quais bandas e artistas brasileiros te chamaram atenção? 

Por muito tempo venho aprendendo sobre a incrível música brasileira – grandes álbuns como “Construção” e “Africa Brasil”… discos dos Titãs, IRA!, Cachorro Grande… todos esses trabalhos fazem parte da minha coleção há um tempo. Mas também há músicas incríveis saindo agora das cenas do rock e underground. Existe muito talento por aí! Assisti uma ótima banda na semana passada, aqui em São Paulo, chamada Lumen Craft. Performance poderosa e original, além de ótimas canções!

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arte | marina malheiro

fotos | rayana macedo


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