Digite no Google “discos lançados em 1966″ e uma enorme oferta de links o levará a listas e mais listas dos melhores álbuns nascidos neste ano e que, portanto, estão completando 50 anos de vida em 2016. A maioria destas listas, porém, tem amor pelos dentes e não se arrisca a deixar de fora os grandes lançamentos daquele ano: “Revolver” (Beatles); “Pet Sounds” (Beach Boys), “Blonde on Blonde” (Bob Dylan), “Aftermath” (Rolling Stones), “A Quick One” (The Who), para citar alguns do time gringo; a estreia fonográfica de Chico Buarque e “Os Afro-Sambas”, de Baden Powell e Vinicius, na seleção brasileira.
Convenhamos: só aqui citamos sete dos mais importantes álbuns da história da música. É natural e compreensível que muita coisa boa fique de fora quando se fala de discos cinquentões. Por isso, nossa lista não tem os mesmos nomes de sempre. Fomos atrás de grandes discos lançados em 1966 que também merecem um bolo de aniversário pelos seus 50 anos.
Atenção! Vai começar a festa.
[1] SIMON & GARFUNKEL – Sounds of Silence
Trata-se de um clássico, sim, mas que, em meio a tantos outros lançados em 1966, às vezes fica escondido ou nem é citado pelas principais listas. Aqui, Paul Simon e Art Garfunkel levam o termo “folk rock” a um patamar único, quase inatingível. Embora na minha opinião este não seja o melhor disco da dupla, é o trabalho mais importante, e que traz a música mais emblemática da carreira dos dois.
[2] ROBERTO CARLOS – Roberto Carlos
Em 1966, Roberto Carlos já é Roberto Carlos. Neste disco – cuja capa faz alusão ao álbum “With The Beatles”, que saiu dois anos antes -, o cantor e compositor começa a se afastar da ingenuidade da Jovem Guarda e dá os primeiros passos na caminhada que desembocaria nos clássicos discos que lançaria entre 1967 e 1972. Esse é, portanto, um álbum de transição. Sai de cena Elvis, entram os Beatles. Destaque para “Eu Te Darei o Céu”, “Querem Acabar Comigo” e “Papo Firme”.
[3] NINA SIMONE – Wild is the Wind
O sexto álbum de estúdio de Nina Simone é, na verdade, uma compilação de faixas que não entraram em seus discos anteriores. Incompreensivelmente, é preciso dizer. Como uma canção como “Four Women” pode ficar de fora de um disco? Ouvindo o disco faixa a faixa, nem parece que é uma coletânea: ele é instigante – há desde o tradicional jazz ao folk, passando pelo calypso – e promove um diálogo entre os gêneros que só os grandes álbuns conseguem.
[4] JACKSON DO PANDEIRO – O Cabra da Peste
Alceu Valença tem uma definição incrível sobre Jackson do Pandeiro. Diz ele: “o Gonzagão é o Pelé da música, e o Jackson, o Garrincha”. Escutar este álbum, o primeiro e único de Jackson pela gravadora Continental, ajuda a entender a frase. A maioria das canções são divertidas, há malandragem nas letras e nos arranjos em que predominam o forró e o samba. Dá até pra imaginar um clipe das jogadas de Garrincha com as músicas do disco ao fundo. Mas dentro dessa festa há também uma mensagem maior, e ela vem na penúltima faixa, “Polícia Feminina”, que acabou censurada pela ditadura.
[5] JIM CROCE – Facets
Um jovem músico quer gravar seu primeiro álbum, mas nenhuma gravadora está interessada. Ele, então, pega 500 dólares que ganhou de presente de casamento e banca, ele mesmo, as 11 faixas do disco. Parece uma história recente, mas ela aconteceu com o ícone americano Jim Croce em 1966. “Facets” – esse é o nome do álbum – virou raridade entre os fãs do cantor. Nele, ouvimos Croce tateando em busca de uma assinatura vocal, que viria sem demora no disco seguinte. Um álbum para entender qual foi o ponto de partida de uma das carreiras mais bonitas, e trágicas, da música americana.
[6] ESTHER PHILIPS – Esther Philips Sings
Esther Philips foi uma das grandes cantoras do século passado. Amy Winehouse aprendeu muito escutando-a. Mas é pena que as gravadoras pelas quais ela passou tenham forçado tanto a mão em dirigir sua carreira, tornando sua discografia irregular. No entanto, sua voz – o que realmente importa, no fim das contas – justifica qualquer barbeiragem. E neste “Esther Philips Sings”, ela se dedica ao jazz standard e eleva canções como “Crazy He Calls Me” e “He Touched Me” a patamares inalcançáveis. O disco não foi bem sucedido – e as drogas logo a levariam deste mundo -, mas faixa após faixa, este álbum mostra que era só deixar Esther cantar. Eis uma artista, e um disco, que deve ser recuperado sempre, e não só em efemérides.
[7] THE SANDALS – Endless Summer
A trilha sonora do documentário “Endless Summer”, de Bruce Brown, foi inteiramente gravada pelo grupo de surf rock The Sandells, que depois mudou o nome para The Sandals. As 12 músicas somam apenas 27 minutos e trazem inspiradas melodias e harmonias que seriam definidoras da chamada “surf music: guitarras ardentes, percussões insinuantes e nenhum vocal. O álbum só saiu em 1966, dois anos depois do filme.
[8] NARA LEÃO – Manhã de Liberdade
Muito melhor é ler o que o poeta Ferreira Gullar escreveu sobre este álbum, na época de seu lançamento. “O presente lançamento se insere coerentemente na discografia de Nara. Dele constam novas canções e sambas de protesto como também as criações líricas mais puras. Junto com o samba mais citadino e inovador, temos aqui as criações bebidas em fonte folclórica. Neste disco, Nara fala de Hiroshima e do sertão brasileiro, canta e denuncia, fala da liberdade e da morte, da paixão e da festa. Tudo naquela voz sensível, estranhamente emocionada, que os brasileiros se acostumaram a ouvir e amar”. Destaque para “Ladainha”, do então iniciante compositor baiano Gilberto Gil.
[9] CHARLES MINGUS – Right Now
Duração total deste disco: 46 minutos e caprichosos 59 segundos. Número de faixas deste disco: 2. É isso. Com apenas duas canções de 23 minutos cada, “New Fables” e “Meditation”, Charles Mingus lançou “Right Now: Live at The Jazz Workshop”. O disco não costuma aparecer na lista dos melhores álbuns do baixista, mas é uma aula de pegada, de incitação entre músicos – um desafiando o outro o tempo todo – e de exuberância rítmica nada gratuita.
[10] JAMES BROWN – I Got You
Foi logo no primeiro dia de 1966 que James Brown lançou esta coletânea. Naquele momento, ele já era o rei do funk – “I Got You ( I Feel Good)” foi lançado no ano anterior e tornou-se um sucesso interplanetário. Acostumado a colocar singles na rua, Brown optou por abrir o ano de 66 apresentando ao mundo um LP com faixas já conhecidas do público, como “Night Train” e “Think”. Trata-se de um disco extremamente atraente, embora não traga novidades. Era só um disco de James Brown, mas todo mundo gostava.
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arte | belisa bagiani