Com referências de grupos como Novos Baianos, Doces Bárbaros e ritmos do maracatu, frevo, ijexá, pagode baiano e samba-reggae, “Camaleão Borboleta”, o novo disco do Graveola e o Lixo Polifônico, revela outras facetas do grupo mineiro, que completa 11 anos em 2016.
O show de lançamento do álbum – produzido por Chico Neves e contemplado pelo projeto Natura Musical – acontece neste domingo, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, e terá participações de Felipe Cordeiro e Juliana Perdigão – saiba mais detalhes sobre o show.
O Azoofa conversou com o saxofonista e tecladista Henrique Staino sobre o processo de criação do disco, o ato de fazer política por meio das letras e a importância de Chico Neves para o resultado final do álbum.
AZOOFA: “Camaleão Borboleta” é o quinto disco da banda. Como foi o processo de criação deste álbum? O Chico Neves é um dos grandes produtores brasileiros. Achei que o casamento entre ele e o Graveola funcionou muitíssimo bem. Como rolou o convite a ele e como foi a troca entre vocês?
Henrique Staino: O processo de criação desse disco foi um pouco diferente dos demais. Uma coisa é o amadurecimento da banda, que lentamente foi levando o grupo para outros lados, uma sucessão de mudanças sutis, tanto na formação quanto nas influências do grupo. Outra, foi a presença brilhante do Chico Neves, que produziu o disco acrescentando à banda sua visão, com muitos dos arranjos sendo feitos ao longo da gravação. Algumas das músicas, por exemplo, nunca haviam sido tocadas ao vivo pela banda antes da gravação do disco. São diferenças que somam para um resultado um pouco diferente do usual. E o que queríamos com o Chico era justamente isso, a presença de uma nova mente e um novo coração no processo, um novo vetor, e deixamos que as coisas fluíssem naturalmente o que foi ótimo. Estamos muito satisfeitos com o resultado.
“Índio Maracanã” e “Tempero Segredo” são faixas levantam críticas ao descaso com que tratamos o índio no Brasil e a descriminalização das drogas, respectivamente. São duas questões urgentes e, especialmente a indígena, de pouca repercussão pública. Como vocês veem essa “função” da arte, de servir como agente de alerta e de propor reflexões ao seu público?
Não há outra alternativa para nós do que essa. Como fazer um disco e não falarmos dessas questões? Elas nos afetam mais profundamente do que se poderia pensar numa análise mais imediata. A função da nossa música sempre foi de dar aquele peteleco na cabeça das pessoas, seja no âmbito pessoal, das relações mais imediatas, seja no âmbito social, em como essas pessoalidades se encontram e quais são os resultados desses sucessivos encontros. Não dá pra ficar somente no auê, isso não nos satisfaria e não nos levaria muito longe.
Esse será o primeiro show da banda depois da turnê europeia. Como foram as apresentações por lá? Que tal a receptividade do público?
Foram maravilhosas! Tocamos em situações diversas, desde um dos maiores festivais da Europa, até uma ocupação anarquista de uma fábrica no interior da Dinamarca. E foi excelente perceber que conseguimos estabelecer conexões com as pessoas em todas essas situações. Cada uma a seu modo, não deixamos ninguém incólume!
Depois dessa turnê, vocês acreditam que há espaço para a nova música brasileira chegar em mais lugares na Europa, por exemplo?
Com certeza! Já sabíamos disso antes, e essa turnê só reforçou essa noção. Inclusive, íamos tocar até na Lituânia, o que não aconteceu por questões de logística, mas o espaço, a abertura e o interesse existem e estão lá para todos nós aproveitarmos.
No show, vocês terão a companhia de Juliana Perdigão, Leo Cavalcanti e Felipe Cordeiro. Como rolou a escolha deles para esta apresentação?
Essa escolha se deu de forma natural, tanto pela afetividade, pela amizade, quanto pela competência inquestionável dos convidados. São as confluências, o desejo de fazermos música juntos. Não poderíamos perder essa oportunidade maravilhosa.
Depois de São Paulo, há outros shows programados?
Sim, estamos em plena turnê pelo Brasil. Já lançamos em BH, em duas noites maravilhosas de casa cheia, e agora, depois de SP temos Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Presidente Prudente, Recife, Uberlândia, e mais outras cartas na manga ainda em negociação e avaliação.
O Graveola completa em 2016 11 anos de banda. É uma idade respeitosa. Nesse tempo, o que vocês aprenderam de mais importante sobre o ofício de fazer e viver de música?
São muitas coisas que já aprendemos e outras tantas que ainda temos a aprender. Difícil de escolher a mais importante, mas creio que seja estarmos sempre a aplacar nossos egos, e lembrarmos que nossa missão comum é com a música, com a capacidade de colocar as pessoas a se movimentarem, a se questionarem, a se emocionarem, e talvez levá-las a experimentar a realidade de uma maneira um pouquinho diferente do que fariam.
Por fim: uma palavra para resumir o disco.
Transmutação.
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arte | marina malheiro