Com um álbum completo previsto para 2017, o jovem quarteto paulistano E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, formado em 2013 por Lucas Theodoro (guitarra, programações), Luccas Villela (baixo), Luden Viana (guitarra) e Rafael Jonke (bateria), vem chamando atenção pelo instrumental arrojado, que costura referências de punk, jazz, eletrônica e pós-rock em temas com títulos quase sempre tão longos quanto o nome da banda, como “… E Você Espera Por Tanto Tempo Que Já Não Lembra Mais o Porquê” e “Quando Vão Saber Que Já Apanhei o Suficiente?”, do elogiado EP Vazio (2014).
Em julho e agosto, eles fizeram três shows em São Paulo para lançar o vinil de 7 polegadas “Medo de Morrer | Medo de Tentar”. Gravado no estúdio Superfuzz, no Rio de Janeiro, o disco conta com arte gráfica assinada pelo designer Jaime Silveira, que tem elaborado peças para Jair Naves, ruído/mm, Arms & Sleepers (EUA), entre outros artistas de destaque do cenário independente.
Nesta terça-feira, o grupo – selecionado para o Prata da Casa do Sesc Pompeia – volta a tocar em São Paulo. Dessa vez, será no Cine Joia. A banda foi convidada para fazer um trabalho publicitário no local e aproveitou para realizar um show (saiba mais detalhes aqui).
Com exclusividade para o Azoofa, eles falam sobre a experiência de fazer vários shows em São Paulo, comentam o lançamento do vinil e refletem sobre o tema das novas canções. “Acho que o “medo de morrer” é algo instintivo e paralisante, enquanto o “medo de tentar” trata de problemas muito mais internos”.
AZOOFA: De julho a agosto, vocês fizeram três shows em sequência em São Paulo. Amanhã, no Cine Joia, acontece mais um. Como tem sido essa temporada na cidade?
Luden Viana e Rafael Jonke: Jogar em casa é sempre mais confortável, né? E fazer efetivamente parte da cena cultural da nossa cidade nos deixa muito feliz, ainda mais tendo lançado nosso compacto no Centro Cultural São Paulo, que é um lugar icônico para todos nós. Foi um show maravilhoso, com uma belíssima interação entre a banda e as pessoas que foram nos assistir. Emocionante, mesmo.
Nessas apresentações, vocês lançaram um vinil com duas músicas, “Medo de Morrer” e “Medo de Tentar”. Como surgiu a ideia de lançar um 7 polegadas com duas faixas de temática “irmãs”?
Desde o começo da banda, sempre tivemos vontade de lançar algo em vinil. Na época do Vazio, chegamos a fazer orçamento mas nunca fomos adiante por causa dos valores. A ideia do 7” veio como o encerramento de ciclo, e acabou conversando com todo o processo dos singles. O fato de termos um tempo pequeno pra cada lado do disco impôs uma limitação às duas músicas. A coisa toda de fazer dessas músicas, uma obra interligada (muito mais no título que na sonoridade) veio naturalmente, apesar das faixas não terem sido pensadas como uma unidade sonora que as tornassem totalmente associáveis.
Medo de morrer e medo de tentar são dois temores paralisantes para o ser humano. E me parecem parentes: a gente tem medo de tentar porque tem medo de fracassar, e o fracasso é uma pequena morte em vida. Como soam esses temas pra vocês?
Eu acho que essa foi a pergunta mais interessante sobre os nomes das músicas e o conceito delas. Eu concordo plenamente que ambos os medos são parentes e paralisantes, mas não somente isso, são dois medos primordiais e motores. Acho que o “medo de morrer” é algo instintivo e paralisante, enquanto o “medo de tentar” trata de problemas muito mais internos. Um é instintivo enquanto o outro é uma limitação imposta por si mesmo.
O Prata da Casa destaca bandas e artistas solo que estão surgindo com destaque no cenário nacional. Como vocês receberam a notícia de que estavam selecionados?
É um orgulho imenso. O Prata da Casa é um projeto que nós admiramos e acompanhamos há tempos, sempre vendo shows, conhecendo artistas novos e prestigiando os já conhecidos. É realmente a realização de uma meta, já que o Sesc Pompeia é um dos principais redutos da música em São Paulo, e fez parte da nossa história como cenário para as primeiras fotos de banda, tiradas pelo amigo Vitor Fiacadori.
A capa do disco é muito bonita e acende – ao menos aqui acendeu – interpretações diversas. Como vocês chegaram ao trabalho do Jaime Silveira para estes singles?
O trabalho com o Jaime foi bem maluco, na verdade. Nós tivemos uma troca intensa de e-mails durante todo o processo de criação do projeto gráfico. Só que nós somos todos muito chatos e demoramos muito pra escolher uma das muitas ótimas versões de capa que ele fez. O fato de não termos letras nas músicas nos torna muito mais meticulosos com tudo que envolve algum tipo de mensagem da banda. No fim das contas, a capa nos agradou bastante.
Vocês que produziram os singles. Como foi para vocês essa experiência?
Tudo que lançamos até agora foi produzido por nós mesmos e sempre fomos muito tranquilos com isso. Apesar da E A Terra… ser uma banda nova, todos nós temos bandas há muito tempo e estamos em contato com música, seja tocando, pensando ou produzindo (em todos os aspectos disso, não somente o musical) desde o começo da adolescência. Isso sempre nos deixou muito tranquilos com essa autonomia.
Pretendem se autoproduzir no próximo disco?
As circunstâncias nas quais gravaremos o próximo disco vão ser decisivas na questão da autoprodução ou não. Todos nós temos alguns nomes que curtiríamos trabalhar junto, mas não há ninguém confirmado e nem conversas para isso.
***
arte | marina malheiro