
Naná Vasconcelos se foi no dia 9 de março e de maneira alguma deixaríamos tal fato passar batido. Sua obra era admirada no mundo inteiro, prova disso é o imenso número de parcerias que o músico pernambucano fez ao longo de sua brilhante carreira. Naná não tinha rótulos, se encaixava como uma luva nos mais diferentes estilos musicais. Parecia, inclusive, que todos os artistas com quem trabalhou preparavam o terreno para ele entrar com sua percussão. Era protagonista.
Selecionamos 8 músicas dos mais diferentes nomes que contaram com o dedo de Naná Vasconcelos e comprovam nossa teoria de que, em qualquer desses times, era Naná e mais 10. Dá uma ouvida no trabalho do mestre!
“Perfect World”, com Talking Heads (1985)
Naná Vasconcelos não fazia parte apenas de um time musical. Ele flertou com todo o tipo de som e andou com os mais diversos artistas, da bossa nova ao rock n’ roll, brazucas ou gringos. Foi nessas que conheceu o inglês David Byrne, lider da banda Talking Heads, que o convidou para tocar percussão na música “Perfect World”, quinta faixa do sexto, e talvez mais popular disco do grupo, ‘Little Creatures’.
“Ando Meio Desligado”, com Mutantes (1970)
Naná conheceu os paulistanos nos bastidores dos festivais da época e logo foi convidado para participar das canções “Ando Meio Desligado” e “Desculpe, Babe”, do clássico disco ‘Ando Meio Desligado’, poucos meses antes de entrar na banda do saxofonista argentino Gato Barbieri – quando se mudou para a Europa e ganhou prestígio e respeito internacional. Durante as gravações, era comum os Mutantes ficarem impressionados ao ver o pernambucano tocar os tambores usando o queixo e as costas das mãos.
“Boas Vindas”, com Caetano Veloso (1991)
Considerado por Caetano Veloso a síntese da percussão negra da música brasileira e exemplo de músico criador abrangente, Naná Vasconcelos participou de dois discos do amigo baiano: ‘Estrangeiro’, de 1989, e ‘Circuladô’, de 1991, onde tocou talking drum, cerâmica e congas na faixa “Boas Vindas”, composta por Caetano em homenagem à seu filho caçula, Zeca Veloso.
“Interlock”, com Ginger Baker (1986)
Algo que aproxima Naná Vasconcelos e Ginger Baker, baterista inglês famoso por integrar a banda Cream e o supergrupo Blind Faith – ambos ao lado de Eric Clapton – são as incomensuráveis viagens rítmicas. Não a toa se conheceram, trocaram figurinhas e tocaram juntos em dois discos de Baker, ‘Horses & Trees’, de 1986, e ‘Dust to Dust’, de 2007. Naná cantou, tocou bateria, berimbau, cuíca e chocalho.
“Rock Me Baby”, com B.B. King (1980)
Naná era aclamado como mestre percussionista por músicos no mundo inteiro, como por exemplo o Rei do blues B.B. King, com quem gravou o disco ao vivo ‘Now Appearing at Ole Miss’, em 1980, época em que residiu em Nova York e se tornou grande amigo dos instrumentistas que integravam a banda de apoio do americano.
“Maria Três Filhos”, com Milton Nascimento (1979)
Na tentativa de difundir seu trabalho no mercado norte-americano com o álbum ‘Journey To Down’, quem Milton Nascimento chamou pra participar de sua banda de apoio? Quem? Isso mesmo, Naná Vasconcelos, companheiro desde 1968, quando, vindo do Recife, apareceu sem ser convidado na casa do Bituca, no Rio de Janeiro, e já saiu batucando nas panelas, frigideiras, garrafas e copos, fazendo um som sem igual. Também tocou nos discos de estúdio ‘Milagre dos Peixes’, de 1973, ‘Geraes’, de 1976, ‘Miltons’, de 1989 e ‘Angelous’, de 1994.
“Kererê”, com Barbatuques (2015)
O desejo de gravar com Naná vinha de muito tempo, até pela proximidade da linguagem dos trabalhos. Foi então que, ao planejarem o disco ‘Ayú!’, a banda de percussão corporal Barbatuques resolveu chamar o músico pernambucano para uma participação especial. Lhe apresentaram algumas músicas e, após uma noite de muita conversa, a escolhida foi “Kererê”, com sua contagiante pegada de maracatú. O resultado não poderia ter sido melhor. Segundo André Hosoi, membro do grupo, Naná ‘amantegou’ a música.
“Assim Naná Ensina”, com Itamar Assumpção (2003)
Pouco antes da morte de Itamar Assumpção, o ícone da Vanguarda Paulista se trancou em um estúdio com o percussionista onde gravou sete faixas que, meses depois, foram lançadas no disco ‘Vasconcelos e Assumpção – Isso Vai Dar Repercussão’. Simples, refinado e com o violão e a voz de Itamar interagindo de forma perfeitamente harmônica com a percussão de Naná. Também participaram do disco Anelis Assumpção, Vange Milliet, Tata Fernandes, Bocato e Paulo Lepetit – responsável também pela produção do álbum.
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