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Entrevista: Bruno Gouveia (Biquini Cavadão)

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Na estrada com a turnê ‘Me Leve Sem Destino’, que comemora os 30 anos da banda, o Biquini Cavadão vem se reinventando a cada novo projeto. E não foram poucos. Ao todo são 11 discos de estúdio e 3 ao vivo – todos lançados também em DVD -, além das 9 coletâneas.

O Biquini foi a primeira banda nacional a ter um site oficial. Ao contrário dos companheiros brazucas contemporâneos do gênero, sobreviveu ileso ao “tenebroso inverno” chamado anos 90 e saiu ainda mais forte dele. Seu repertório é atemporal, tanto na hora de abordar temas sociais e políticos, quanto na de construir baladas marcantes.

3 décadas de carreira é muita coisa. O Azoofa falou com o vocalista do Biquini Cavadão, Bruno Gouveia, sobre o começo, os discos mais lembrados, a situação política brasileira, novos projetos e, é claro, sobre a arte que é se manter junto por tanto tempo.

AZOOFA - É inegável a importância do Herbert Vianna para uma série de bandas do rock nacional. Ele trouxe a Legião Urbana pros grandes centros, apadrinhou a Plebe Rude e sabe-se que também batizou o Biquini Cavadão. Como vocês se conheceram e qual a relação que vocês tinham na época? Hoje ele ainda é um amigo próximo?

Bruno Gouveia: Fui apresentado ao Herbert em 1983 e, à época, ele namorava a irmã do baixista Sheik. Devemos a ele nosso nome e ele sempre foi uma referência, um norte para nossa bússola. Aliás, todos do Paralamas do Sucesso! Não somos próximos e nossos encontros acontecem mais frequentemente na estrada, mas quando isso acontece é sempre uma festa.

O Biquini talvez seja o caçula entre os grupos do chamado “Rock de Bermudas” – numa era muito rica e criativa pro BRock. A banda já surgiu com um hit avassalador, “Tédio”, em 85, mas pode-se dizer que a mídia especializada “abriu a cabeça” e começou a prestar mais atenção para a banda no início dos anos 90, com ‘Descivilização’? Por quê? Esse é o disco mais celebrado pelos fãs?

Nós e a Plebe Rude éramos as bandas mais jovens: todos na faixa dos 18,19 anos. Neste sentido, sim, éramos caçulas. Talvez por sermos tão novos, havia uma desconfiança de que o Biquini seria de poucos verões. Se enganaram. O álbum ‘Descivilização’ foi um divisor de águas em nossa carreira, mas os fãs celebram muito o CD ‘Escuta Aqui’, de 2000.

É desse álbum a música “Zé Ninguém”, que retrata a indignação social vivida naquela época com a situação política que culminou, inclusive, na queda do ex-presidente Fernando Collor. Como vocês vêem o cenário político atual do Brasil e as manifestações que estão acontecendo? Ao contrário de 1991 e 1992, há militantes dos dois lados e um tenso clima de Fla X Flu, tanto nas ruas, quanto nas redes sociais.

Lamento que muitos estejam vendo tudo de modo binário. Ou preto ou branco. Há mais de 50 tons. Sou contra a corrupção e espero que todos os corruptos de TODOS os partidos sejam investigados.

Governo? Oposição? Não me sinto confortável em ambos os lados. E não sou o único a pensar assim.

Voltando à música, o Biquini, ao contrário de muitas bandas surgidas na década de 80, sobreviveu, e muito bem, conforme já falamos, aos anos 90 – época de baixa no rock nacional. É inegável a capacidade da banda de se reinventar, inclusive na década seguinte, sendo uma das pioneiras no Brasil no “estreitamento de relações” com os fãs através de postagens de fotos e áudios no site oficial. Taí o segredo pra longevidade do grupo? Apesar da saída do Sheik (baixista), em 2000, o restante dos integrantes estão firmes, fortes e juntos desde 85. O que mais une vocês até hoje? 

Nossa união se deve a um profundo respeito que temos entre nós como banda e entre a banda com os fãs. Sempre discutimos todos os assuntos e a maioria é quem ganha. Sabemos entre nós que existe algo maior que os nossos desejos e vaidades: o Biquini Cavadão.

Ainda falando desse lance de se reinventar, o disco ‘80′, que traz releituras de sucessos do rock brasileiro daquela década, foi muito bem aceito pelo público. Tem gente que até prefere as versões do Biquini às das bandas originais! Como rolou a escolha do repertório?

Não foi um processo muito fácil e a escolha das músicas teve de passar primeiro pela escolha das bandas.

Optamos  nesse  disco por não ter artistas solo  e mesmo a música “Me Chama” só entrou porque pertencia à banda Lobão e os Ronaldos. Quem tivesse gravado um disco ao vivo recentemente também não estaria nesta seleção como foi o caso do Ira! e do Capital Inicial. Depois disso, passamos a escolher as músicas.

Buscamos escolher canções bem conhecidas assim como algumas raridades, mas sempre buscando valorizar o repertório destas bandas.

Nosso maior orgulho foi ver a satisfação de cada compositor com os arranjos.

Ao contrário dos primeiros anos, o tempo entre cada disco de estúdio foi ficando cada vez maior, apesar de muitas músicas terem sido compostas nesses períodos. Qual o motivo? Há planos de um álbum de inéditas, ou mesmo um EP ou single pra breve?

Já estamos compondo um novo CD a ser lançado ainda no segundo semestre deste ano e com a produção de Liminha. Alguns hiatos se deram a circunstâncias completamente fora do controle da banda como foi o caso do disco ‘Roda-Gigante’, que estava pronto para ser gravado desde 2011, mas devido ao acidente que vitimou meu filho, foi postergado para 2013.

(A ex-mulher de Bruno, Fernanda, e seu filho de 2 anos, Gabriel, faleceram em um acidente de helicóptero em 2011.)

O mais recente de novas, Roda-Gigante, de 2013, saiu em todos os formatos: CD, pen drive, digital e … LP! Como vocês, que sempre foram tecnologicamente evoluídos vêem a volta da “bolacha”? Pretendem lançar o próximo nesse formato também?

Gostamos de oferecer “quitutes” que ajudem os fãs a terem uma coleção mais do que completa dos nossos itens. Se for viável lançarmos um novo disco de inéditas no formato de vinil, com certeza faremos. Mas o vinil para nós é só mais um formato. Segundo pesquisa feita nos EUA, 54% dos compradores de vinil não tem toca-discos.

Recentemente o Biquini completou 30 anos de carreira. O que fica de lição nessas 3 décadas de estrada? O que vocês compartilhariam com bandas novas que lutam para sobreviver de música?

Tenham paciência nos momentos de baixa. E muita humildade nos momentos de alta. Norteie sua carreira com respeito a quem te contrata, quem te entrevista, quem é seu fã. E componha sempre com bastante autocrítica. Boa sorte e sejam bem-vindos.

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