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Azoofa Indica: Larissa Baq

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Logo depois que nasceu, ali pelos 3 ou 5 anos de idade, Larissa curtia mesmo era mexer nuns rádios de brinquedo que encontrava pela casa. Apertava todos os botões, ouvia os barulhinhos que escapavam dali e ficava feliz pra sempre – até que a bateria acabava ou a mãe chegava. Na mesma época, sempre haviam os domingos, sempre haviam seus avós e sempre havia uma viola guardada no guarda-roupa. Era o avô que a tirava de lá, pra alegria de Larissa, que era feliz para sempre naquele que é o dia mais devagar de todos.

A troca entre música e Larissa nasceu assim: era a primeira que fazia muito bem a segunda. Aos poucos, porém, Larissa começou a doar um pouco pra relação: primeiro, adolescente, tocando e compondo escondida no seu quarto, baixinho pra ninguém ouvir, os primeiros rascunhos de canções. Depois, fazendo os primeiros shows com amigos, os primeiros shows sozinha, as primeiras viagens para tocar fora da cidade natal, Franca, até finalmente tirar os pés do chão, voar e chegar aqui: a gravação e o lançamento de seu primeiro disco.

O nome do álbum, “Voa”, como vocês podem ver, faz todo sentido.

Nesta quinta-feira, no Serralheria (saiba mais sobre o show), ela sobe ao palco para lançar o disco, que tem produção de Michi Ruzitschka. Com exclusividade para o Azoofa, Larissa fala como a música permeia sua existência e define o álbum como “filho primogênito de parto natural na banheira de casa”.

AZOOFA: Larissa, você se dedica à música há bastante tempo. Tem ideia – e memória – de quando a música te despertou atenção pela primeira vez?

Larissa Baq: Eu tinha um daqueles rádios de brinquedo que a cada botão que você apertava era um loop diferente do que eu lembro ser uma bateria. Ficava horas apertando até acabar a pilha, pegava a pilha do controle do vídeo cassete e ficava mais umas horas. Óbvio que minha mãe descobria e não durava muito a brincadeira (risos). Fora isso, lembro demais de ir pra casa dos meus avós e o momento de tirar a viola dele de cima do guarda roupa era sempre incrível. Nessa época eu tinha entre 3 e 5 anos, mais ou menos.

Você se define como cantautora, mas você é mais: é instrumentista e é também ativa na direção da sua carreira, praticamente se autoproduzindo. Diante de tantas funções, quais você tem como desafio maior atualmente: cantar, compor, tocar ou produzir?

A palavra cantautora me veste pois é por onde eu milito: cantar e tocar as minhas composições. A guitarra me veste muito antes de ser cantautora, então sempre digo “cantautora e guitarrista“, apesar de ter estudado percussão por uns anos, bateria e trompete na adolescência, etc. Cantar sempre me foi “menos natural“, eu sinto. Tinha muita vergonha desde sempre, compunha com 15 anos umas baladinhas no quarto, com a porta fechada e bem baixinho pro meu irmão não ouvir e me encher depois… assim a voz demorou um pouco mais pra tomar fôlego e sair.

“Voa”, você diz, “é o desejo do artista de que as pessoas voem mais, tirem os pés do chão”. De que forma a arte altera sua percepção sobre o mundo, e de que forma você sente que a sua arte começa a alterar a percepção de outras pessoas sobre o mundo? Ou: como é ser salva pela arte e ser também quem salva o outro?

Eu me lembro do momento que eu percebi que o que eu fazia estava fazendo alguma diferença no dia de alguém. Foi emocionante, e ao mesmo tempo senti uma responsabilidade muito grande. A música é uma das ferramentas mais poderosas pra se transmitir algo, pra se mudar algo, pra ir em frente com mais coragem, pelo menos pra mim. E justamente isso, acho que a música molda meu mundo desde aquele radinho de brinquedo ali aos 3 anos, ela é fuga, ela é tapa na cara, ela é carinho, ela é cuidado e é tão dentro… Tudo gira tanto em torno dela que entender como o mundo funcionava – por bem e por mal, tendo a música, eu creio bastante que foi mais leve e ao mesmo tempo, intenso. Sou salva por ela todos os dias, e poder ser um pouco de quem salva o outro é deveras responsa e toca.

Queria que você falasse sobre o álbum. Quando você começou a pensar neste primeiro disco? Quanto tempo levou todo o processo, e como foi pra você essa experiência?

Foi no meio de 2014 que eu decidi que já podia começar a me mexer pra conseguir gravar. Logo depois dessa decisão, o pessoal do Partio [site de crownfunding cultural] entrou em contato comigo, me encorajando a fazer a campanha. Aí, passei alguns meses planejando. Ela se iniciou em março de 2015 e foi até abril. Conseguimos uma quantia pra começar o processo. Em maio, iniciamos a pré-produção, gravamos entre agosto e dezembro, mixamos em janeiro, masterizamos em fevereiro e ele nasceu no dia 15 de abril. Foi um processo mágico, doloroso, lindo, extasiante, sensacional, enlouquecedor. Em momento algum foi frustrante ou desanimador, mas óbvio que foi difícil. Fiz a produção executiva e a direção artística, entre mil coisas, então não teve o que não passou pelas minhas mãos e foi um aprendizado gigantesco, o tempo todo, em todas as etapas. Filho primogênito de parto natural na banheira de casa.

Num dos vídeos de divulgação do álbum, o Pedro Altério fala sobre como tuas músicas tem um desenho todo particular, e como era importante que quem produzisse o álbum tivesse o cuidado de não mexer nisso. Como foi o trabalho do Michi nesse sentido?

O Michi é um cara bem sensível, respeitou muito meus processos, minha identidade enquanto compositora e guitarrista. Isso tá na cara do disco e tá exatamente como eu gostaria que estivesse. Eu chegava com mil idéias e referências, ele com outras mil, peneirávamos, tocávamos umas coisas, gravávamos e experimentávamos o tempo todo, fizemos tudo muito juntos. Ele foi um guia – e um guia mais certo era impossível – pro meu processo criativo doido.

Como rolou a ideia de convidar LyricL, Pedro Altério e Felipe Roseno para participarem do disco?

A LyricL é uma amiga de alguns anos que conheci em Londres e “Vida que Segue“ pedia um outro sotaque gringo, já tinha muito espanhol em outras letras por eu estar nesse momento mega apaixonada pela língua e a cultura latino americana, então ficamos entre inglês e francês e lembrei dela, que tem um flow absurdo de lindo. Era pouco antes do Natal quando fiz o convite, ela estava em turnê por Gana e topou na hora, voltou pra Londres uma semana depois e gravou. Ficamos chocados quando ela mandou as ideias, cabia perfeitamente nas nossas expectativas. O Pedro é o cara que me abriu, me abre e me abrirá os braços sempre, não tinha como ele não estar no disco. Posso ficar vários caracteres aqui rasgando seda pra ele (risos), mas a real mesmo é que o Pedro é um irmão, daqueles que enxergo nós dois com 60 anos, sentados numa varanda e falando mal da juventude fazendo música de um jeito completamente diferente de nós naquela idade. O Felipe é um maestro. Pirava na identidade dele desde que ouvi o Trigonotron, projeto dele com o Michi e o Fabinho Sá. “Ver tu Dançando“ pedia umas experimentações – e eu sempre sou aberta à elas – então chamamos o Felipe pra ficar à vontade nela (risos). Ele ficou e o resultado foi maravilhoso.

Que tal lançar no Serralheria? Você já tocou por lá?

Nunca toquei por lá e tá rolando uma ansiedade! Sei que é palco de vários artistas e movimentos importantes de São Paulo e tô mega afim desse dia 5.

Como você fica nos momentos que antecedem um dia importante como esse? Você costuma desacelerar ou é um período intenso?

É intenso, pra mim é sempre intenso. Nunca consigo pensar em uma coisa só, faço a direção do show, então tem ensaio, os convidados, a produção do show em si, a divulgação, comunicar com o publico… Mesmo que eu tivesse uma pessoa pra cada uma dessas funções eu acho que eu continuaria acelerada, faz parte de mim já, da rotina.

Se você pudesse escolher uma música do disco para ser trilha sonora de qualquer filme do mundo, antigo ou novo, qual música e filme você escolheria e porque?

Wow, esse foi foda! Adoro filmes sci-fi e obviamente o Spielberg é um dos meus favoritos. Jogaria “Vida que Segue“ pro David de “Inteligência Artificial“, criando aí uns conflitos (risos). Ela fala de seguir em frente, que “amanhã eu volto a respirar“ e “aguenta que eu vou já“ e pro David a mãe dele nunca deixa de ser o foco, e a esperança de que o amanhã seja diferente com ela. Fui longe nessa! (risos)

***

arte | marina malheiro


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