Era uma cinzenta tarde de sexta-feira quando conversamos com o trio Charming Liars em um hotel de São Paulo, durante sua primeira passagem pelo Brasil. Muito simpáticos e solícitos, Mike Kruger, Kiliyan Maguire e Karnig Manoukian passaram a limpo a carreira. Falaram do novo single/clipe, de como rolou a troca de vocalista – a verdade é que Kiliyan Maguire parece estar à frente da banda há tempos, tamanha afinidade com os companheiros -, da dificuldade em ser artista independente, mesmo em Los Angeles – e mesmo saindo de Londres -, da vida na estrada e, é claro, do show em Sampa com as bandas Far From Alaska e Toyshop.
AZOOFA - Essa talvez seja a pergunta que vocês mais responderam, mas por que a mudança de Londres pra Los Angeles? Comercialmente foi um bom negócio?
Mike Kruger: Foi uma coisa interessante de se fazer, a maioria das pessoas vai para Londres por ser uma cidade bem musical, mas nós crescemos ouvindo álbuns que foram feitos em L.A. por produtores que residem em L.A., e tivemos a oportunidade de trabalhar com alguns desses produtores e, quando visitamos a cidade, notamos que era um lugar onde sentíamos em casa. E tínhamos o tempo e oportunidade de trabalhar com música 24 horas por dia, o que é algo que precisávamos – e ainda precisamos – para conseguir uma carreira musical. Então acho que foi uma mudança comercialmente positiva para a banda, pois estamos aqui agora… Não sei se isso seria possível se tivéssemos ficado em Londres. Foi uma boa escolha.
Como rolou a entrada do Kiliyan Maguire na banda e quais as principais influências musicais que ele trouxe?
Mike Kruger: Nós achamos ele na rua (risos). Ele estava sentado na frente do estúdio com uma placa que dizia “Cantor Precisando de Emprego” (risos)! Não, nós nos conhecemos através de amigos em comum. Estávamos naquela situação difícil na qual o cantor da banda vai embora e tivemos muita sorte em encontrar Kiliyan logo de cara. Ele é um cara ótimo e o que ele traz para a banda, pessoalmente falando, é sua personalidade incrível, uma boa amizade, e apesar de nos conhecermos por pouco tempo, sinto que ele é um irmão para mim e um dos melhores cantores com quem já trabalhamos. Ele permitiu uma expansão em nossa forma de compor porque não há limites em seu alcance vocal, ele atinge notas super altas, super graves, super roucas, super sexy, super nervosas, ele faz tudo (risos)! Como Karnig disse na primeira vez que gravamos com o Kiliyan, “o microfone o ama” (risos). Mas fale você (para Kiliyan): com que você contribui na banda? Além de sua boa aparência (risos)!
Kiliyan Maguire: Eu cresci com uma “dieta saudável” de muitos cantores e compositores…
Mike Kruger: E kale (risos).
Kiliyan Maguire: (risos) Sim, e kale. Mas para esta banda eu realmente quis expandir o conceito lírico e abordar temas diferentes, porque os dois primeiros EPs ficaram ótimos e foi divertido caminhar em uma nova direção. E acho que a banda foi bem receptiva quanto a isso, mostraram interesse em tomar o mesmo caminho.
Em termos de letras, você disse que contribuiu com uma nova direção. Em relação a música em uma forma mais geral, você somou novas influências ao grupo?
Kiliyan Maguire: Quando nos conhecemos pela primeira vez, descobrimos que escutávamos basicamente as mesmas bandas, mas obviamente existiam algumas diferenças também. Por exemplo, eu e Mike gostamos de praticamente tudo, mas temos uma base no rock clássico, no “rock de álbum”. Eu cresci ouvindo bastante The Eagles, Jackson Browne… E o Karnig é tão imerso no que esta rolando atualmente, então acho que é uma boa combinação de novo e velho, e isso contribui muito para nós.
Fale da repercussão do single “Soul” e do novo clipe!
Kiliyan Maguire: ”Soul” é uma daquelas músicas que, na minha opinião, quase se escreveu por conta própria. Criamos algumas melodias e tivemos algumas ideias para a instrumentação. Em casa, fiz alguns rascunhos para a letra e, literalmente, a primeira frase da letra, que diz “12:31″, olhei para o relógio e marcava exatamente 12:31.
Mike Kruger: Eu não sabia que isso aconteceu! Isso é loucura!
Karnig Manoukian: Mentira!
Kiliyan Maguire: É verdade (risos)! Mas enfim, a música foi criada a partir disso. E gravar o video foi bem divertido, a gente queria capturar visualmente o que tínhamos criado musicalmente. E o pessoal com quem trabalhamos, da Chartball Entertainment, foi fantástico. Compartilhamos diversas ideias com eles.
E quando sai o novo EP?
Mike Kruger: Temos uma data exata?
Karnig Manoukian: Nós não sabemos (risos).
E pretendem lançar algum single antes?
Mike Kruger: Não, acho que o EP vai sair até o final de maio, então “Soul” é a prioridade. Honestamente, acho que vai ser bem difícil escolher o próximo single porque temos ótimas músicas neste disco. Então, vamos continuar trabalhando com a “Soul” por enquanto e queremos que o maior número possível de pessoas no mundo escute-a. Mas estamos animado com o lançamento do EP e com as apresentações ao vivo, pois são músicas que fazem as pessoas se sentirem bem quando tocadas em alto volume.
Aqui no Brasil, existe uma grande dificuldade em ser artista independente e em lançar seu próprio material. Como é esse cenário em Los Angeles e em Londres?
Mike Kruger: Exatamente igual. Ser um músico atualmente, é bem difícil sobreviver apenas tocando música. Ainda existe uma indústria enorme, mas não existe mais uma participação maior do público, financeiramente falando, como antes. Todos somos culpados em querer que a música chegue de graça para nós, e isso é uma mudança cultural, então é bem difícil e geralmente temos que sacrificar bastante, como ficar alguns dias sem comer comida boa. Todos meus amigos da época de escola tem empregos de verdade, casas, carros e famílias… Mas, ao mesmo tempo, podemos fazer isso! Conhecer pessoas como vocês e visitar cidades maravilhosas como São Paulo. Vale a pena o sacrifício e espero que, eventualmente, iremos chegar em um estágio em que poderemos pagar o aluguel graças a música (risos)!
E o álbum cheio? Eu li que os planos eram lançar em 2017. Ele sai com um compilado de sons dos EPs ou com material inédito?
Mike Kruger: Isso ainda esta para se decidido. Nós, como banda, estamos sempre compondo. Temos várias músicas praticamente prontas para nosso próximo álbum… Então vamos apenas ver como esse ano vai ser. Nós sempre conversamos sobre lançar um álbum cheio, mas achamos que o EP é o formato certo para nós nesse momento porque podemos lançá-lo mais rápido e é uma boa oportunidade para os fãs escutarem nossas músicas regularmente. Mas talvez gravamos um álbum cheio no final do ano ou quem sabe mais um EP, não sabemos ainda, temos que discutir detalhadamente sobre isso.
Vocês acham que por causa da internet tornou-se mais viável lançar EPs e singles ao invés de um álbum cheio?
Mike Kruger: Eu acho que é a internet, mas também por causa do jeito que as pessoas escutam música, atualmente. Agora você pode comprar faixas individuais, então a maioria das pessoas não compra o álbum completo… E mesmo se comprar, raramente vai escutá-lo do começo ao fim. Não digo que é um formato ultrapassado, mas é um formato que não precisamos, necessariamente, no momento. Existe música nossa o suficiente para criar seu próprio álbum, você pode coletar faixas de nossos EPs e gravar um álbum de duas ou três horas, se quiser. Mas essa é a internet, não existem mais regras. Se você quiser divulgar seu próprio material, você pode, o que é ótimo. Se a gente quiser, podemos compor e gravar uma música em um dia, e vendê-la no Itunes no dia seguinte. E isso, para nós, é bem libertador. Não precisamos esperar para o vinil ser prensado e tal, podemos estar completamente no controle do nosso destino.
Como foi o show de São Paulo e o contato com as bandas Far From Alaska e Toyshop?
Mike Kruger: Eu me diverti bastante!
Kiliyan Maguire: Nós curtimos muito. Já tínhamos ouvido ótimas coisas sobre fãs brasileiros e, no momento em que subimos ao palco, não nos decepcionamos… Os fãs são bem intensos e calorosos. Tinham pessoas na platéia que sabiam todas as letras e, quando você vem de tão longe quanto nós, e vê que sua música chegou a um país antes de você, é um alívio e passa um sentimento de boas-vindas. Nos divertimos muito!
Karnig Manoukian: Foi incrível.
Antes de chegarem no Brasil, vocês passaram por México e Colômbia. Saindo daqui começa a turnê americana. Vocês gostam de passar tanto tempo na estrada?
Mike Kruger: Nós amamos! Bom, eu falo por mim mesmo… Mas é divertido! Felizmente, nos damos muito bem juntos e isso facilita muito. Nos sentimos como uma família ou um time porque passamos todos os dias juntos, o dia inteiro. Então, passamos a terminar a frase do outro, dar risada o tempo todo… Gostamos de contar piadas o tempo inteiro, mas provavelmente não posso contar agora (risos). E é assim que mantemos um ambiente bom. E viajar é uma das melhores coisa que o ser humano pode fazer, então temos sorte de poder viajar. Mas a pior parte de sair em turnê é voltar para casa. Você pensa: “Ah não, estou de volta, isso é horrível!” (risos).
O que vocês estão achando do Brasil? São Paulo não é tão exótico assim, não é mesmo?
Mike Kruger: (Risos) Eu discordo!
Karnig Manoukian: Algumas partes são exóticas (risos)!
Mike Kruger: Sim, depende para onde você vai. Não é o que eu esperava, mas não sei o que eu esperava, na verdade… Mas é tão legal, me lembro de quando chegamos aqui e pensamos no quão enorme esse lugar é. E como você disse antes, passamos por outras cidades da América Latina, mas não tem comparação. Todo mundo é muito gentil, as mulheres são lindas, a comida é ótima e vocês amam futebol, é tudo que amamos em um só lugar, então só estamos felizes de estar aqui e não vejo a hora de voltar! Não acredito que demorei tanto para vir aqui.
Algum recado para o público brasileiro?
Mike Kruger: Por favor, comprem nosso disco para que possamos voltar para cá em breve (risos)! Nós amamos seu país, amamos vocês e esperamos conhecer o máximo deste país e das pessoas… Então, liguem para as estações de rádio e peçam para tocar “Soul”, por favor!
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